Multicampeão no papel e no íntimo, Tite trocaria dinheiro por estabilidade

02-11-2010 14:23

 

Em entrevista exclusiva, técnico do Corinthians diz se considerar campeão brasileiro de 2005 e afirma que cargo é supervalorizado no Brasil

por james do vale lunardelli pr

tite corinthians treinoTite durante entrevista no CT Joaquim Grava, no Parque Ecológico

Gostaria de trocar a valorização financeira que o cargo me dá por uma estabilidade no trabalho"
Tite

Depois da demissão de Adilson Batista, o presidente do Corinthians, Andrés Sanches, afirmou que o próximo técnico não seria herói se conquistasse o Brasileirão nem vilão se o perdesse. Dias depois, a diretoria corintiana anunciou a contratação de Tite. Em sua apresentação, o técnico, que já havia passado pelo Timão, engoliu o discurso do mandatário. Mas o pensamento dele é diferente.

- Eu vou responder a vocês com uma pergunta que me fizeram: ‘se você for campeão brasileiro, o Mano Menezes e o Adilson Batista vão ter contribuição nisso tudo?’. E eu respondi: claro que sim. Da mesma forma que eu vou ter uma parcela de contribuição – falou o comandante da equipe alvinegra.

Ainda magoado por não ter tido sequência no Corinthians da era MSI (Tite foi demitido em fevereiro de 2005 para entrada do argentino Daniel Passarella), o treinador corintiano se considera campeão brasileiro daquele ano. Assim como se considera campeão com o São Caetano de Muricy e o Inter de Celso Roth.

- Idealizei o time que viria a ser campeão brasileiro mais tarde. Mas tem coisas que independem da sua vontade... O São Caetano campeão paulista de 2004 com o Muricy Ramalho também foi concebido por mim. No Inter campeão da Libertadores só o Tinga não foi meu jogador. Intimamente me sinto campeão nesses casos – falou o técnico, que oficialmente tem sete conquistas como treinador. São quatro campeonatos gaúchos (um da segunda divisão), uma Copa do Brasil, uma Copa Sul-Americana e uma Copa Suruga Bank.

Por outro lado, Tite acredita que atualmente o cargo de treinador no Brasil está supervalorizado. Seja para o bem ou para o mal.

- Gostaria de trocar a valorização financeira que o cargo me dá por uma estabilidade no trabalho – opinou o técnico do Timão.

Em entrevista exclusiva , na última segunda-feira, Tite falou também sobre as chances de título do Corinthians, sobre o retorno de Dentinho e a esperança de contar com Jorge Henrique. Confira:

O que te levou a trocar a disputa do Mundial e a estabilidade do trabalho no Al-Wahda pela turbulência do Corinthians?
“Primeiro saber como é o Corinthians, a grandeza do Corinthians, a grandeza da torcida e a qualidade da equipe, que há dois, três meses era a mais equilibrada do Brasil. A perspectiva, o projeto e também o histórico que já tinha passado em 2004 me fizeram abrir mão do Mundial. Dirigir o Corinthians é fascinante”.

Então pesou mais o fascínio do que o dinheiro dos árabes?
“O Al-Wahda é um grande clube, porém os Emirados Árabes estão na segunda linha do futebol e o Corinthians te traz uma perspectiva maior de crescimento profissional. O contexto todo do Corinthians é muito importante”.

tite corinthians treinoTite está em sua segunda passagem pelo Timão

Alguém te chamou de louco por conta dessa decisão?
“O Corinthians é uma grande equipe e como todo grande clube precisa de resultado. Quando isso não acontece vem a turbulência, mas é algo totalmente normal. Faz parte do trabalho”.

Outro dia você disse que em 2004 assumiu o Corinthians para fugir do inferno e que agora chegou para buscar o céu. Explique melhor as diferenças entre o trabalho de seis anos atrás e o de agora, por favor.
“Em 2004, eu tinha a necessidade de reformular a equipe dentro do Campeonato Brasileiro. Se eu não fizesse isso, o Corinthians estava fadado a cair. Desde o começo eu passei isso à direção. Ou mudava ou era insucesso. Agora, em 2010, o time já tem uma estrutura, há um time consolidado, que só precisa retomar o bom momento. Acho que assim fica bem explicado: em 2004 eu tinha o objetivo de transformar um elenco e agora de retomar”.

Antes de anunciar sua contratação, o presidente Andrés Sanches disse que o treinador que assumisse o Corinthians não seria herói em caso de título muito menos vilão se não conseguisse a conquista. Você concorda?
“Eu vou responder a vocês com uma pergunta que me fizeram: ‘se você for campeão brasileiro, o Mano Menezes e o Adilson Batista vão ter contribuição nisso tudo?’. E eu respondi: claro que sim. Da mesma forma que eu vou ter uma parcela de contribuição. Mas o importante mesmo é o conjunto da obra. Essa é a verdade”.

Um técnico para ter uma real avaliação precisa de um ano de trabalho"
Tite

Como você encontrou o elenco do Corinthians?
“De cara eu vi que meu trabalho era de retomada da confiança. E o que te dá confiança? Resultado. E quando o resultado não vem, você tem de buscar confiança no trabalho, na personalidade, no técnico...Afora isso, tínhamos de mudar aspectos táticas. Não vou aqui dizer quais aspectos, porque eticamente não vou me permitir fazer isso. Mas uma equipe que estava havia sete jogos sem vencer e tinha tomado um monte de gols precisava de equilíbrio em alguns setores”.

De uma maneira geral, você acha que o trabalho do técnico está supervalorizado no Brasil?
“Acho, sim. Acho, sim. Acho, sim. E digo mais: as opiniões são muito rápidas. Um técnico para ter uma real avaliação precisa de um ano de trabalho, porque nesse período corrige, direciona, acerta, erra. O seu acerto às vezes é errar menos, é conhecer o grupo, ter tempo de interferência, passar por adversidades, isso conceitua o técnico”.

E qual o segredo para encarar esse imediatismo?
“Só o tempo te dá esse preparo. Eu olho para trás e vejo a bagagem que carrego de anos de trabalho. Você começa em um time pequeno, depois passa para o médio até chegar ao grande, trabalhando com jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Zinho (ambos no Grêmio). Tudo isso te dá experiência para absorver os problemas. Mas é claro que humanamente eu sinto quando sou demitido. Gostaria de trocar a valorização financeira que o cargo me dá por uma estabilidade no trabalho. E sei que poucos chegam ao estágio que estou agora. Muito poucos”.

Como você vê a briga nessa reta final do Brasileirão?
“Ainda tem tempo. É necessário avaliar cada rodada, mas acho que vai ficar enroscado até o final. Costumam dizer que nesse campeonato cada jogo é uma decisão. E agora isso é absolutamente verdade. Cheguei ao elenco esta manhã e disse que na minha primeira rodada aqui os resultados foram todos favoráveis, já na segunda foram desfavoráveis. Perguntei: qual a moral da história? E o elenco me disse: ‘Temos de fazer a nossa parte’. É isso”.

O retorno do Dentinho pode te ajudar nessa reta final?
“Uma das possibilidades de uma equipe ser campeã é estar com todo elenco à disposição. Se conseguirmos ter todo o grupo disponível pode ser um diferencial. Agora o Dentinho, em uma faixa de segurança que não sei ainda. Depois o Jorge Henrique... E também não podemos perder ninguém. Até porque uma substituição importante durante um jogo pode ser decisiva”.

Você ainda conta com o Jorge Henrique?
“Isso está a critério da direção, mas tenho otimismo de que possa contar com ele ainda este ano. O departamento médico é que pode dizer melhor. Mas eu sou, por essência, otimista, então acredito que ele possa estar conosco”.

*O atacante teve uma ruptura em um músculo da coxa direita. A previsão inicial dos médicos alvinegro é que ele volte apenas na próxima temporada.

tite corinthians treinoTite ainda acredita na conquista do Campeonato Brasileiro

Qual seu momento de maior felicidade na primeira passagem?
“Antes do último jogo do Brasileirão de 2004 (vitória por 5 a 2 sobre o Figueirense). A torcida compareceu ao clube e pediu para conversar comigo. Não sabia o que era, mas quando cheguei lá duas garotinhas me entregaram camisas do clubes, um outro torcedor me deu rosas e também tinha uma faixa dizendo: ‘Tite, nós estamos contigo’. E olha que eu não era o técnico do Kia (Joorabchian)”.

Você ficou frustrado de não ter tido sequência na era MSI?
“Prefiro dizer que sinto felicidade de ter idealizado o time que viria a ser campeão brasileiro mais tarde. Tem coisas que independem da sua vontade”.

*Kia Joorabchian, braço direito do fundo de investimentos MSI, demitiu Tite em fevereiro de 2005 e colocou o argentino Daniel Passarella no cargo. Mais tarde, ele saiu e Márcio Bittencourt assumiu. Mas o técnico campeão brasileiro foi Antonio Lopes.

Deixa colocarem pressão, porque é muito bom de jogar a Libertadores"
Tite

Então você se considera campeão brasileiro de 2005?
Sim, sim, sim. No meu íntimo, sim. O São Caetano campeão paulista de 2004 com o Muricy Ramalho também foi concebido por mim. No Inter campeão da Libertadores só o Tinga não foi meu jogador. Uma coisa é o retrato, outra é o sentimento. E eu intimamente me sinto campeão nesses casos”.

Especialmente por ser ano de centenário, a pressão pelo título brasileiro do Corinthians é maior. Isso atrapalha o trabalho?
“A pressão é real. Eu sei disso. Fui técnico em ano de centenário no Grêmio e no Inter. E agora sou nesse resto de centenário do Corinthians. É uma pressão normal e temos de absorver. Dizer que não existe é mentira. Há um clima para isso. Todo mundo pensa: ‘ano de centenário vai ser nosso’”.

E a obsessão que há no clube pela Libertadores, atrapalha?
“Não. Libertadores é bom. Eu tenho cinco delas, duas como atleta e três como treinador. É fascinante. Deixa colocarem pressão, porque é muito bom de jogar a Libertadores. Ela cativa e é mística no Brasil”.


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